Se você é adepto da técnica, lamento mas leitura dinâmica não funciona, é uma farsa!
Nesse artigo você vai entender o que é a leitura dinâmica, por que a ideia vende tanto, e principalmente: porque é pseudociência.
Portanto, se você não quer gastar dinheiro com cursos que fazem falsas promessas para te roubar, fique até o final deste artigo.
O que é leitura dinâmica
Em resumo, leitura dinâmica é um conjunto de técnicas que visam ajudar o leitor a ler livros mais rápido, enquanto mantém ou até mesmo aumenta a compreensão do texto lido.
Dessa forma, surgem algumas técnicas famosas derivada dessas promessas, como por exemplo:
- Skimming
- Treinamento da visão periférica
- Eliminar a subvocalização
- Tecnologias de leitura dinâmica
Porém, todas elas são pseudociência. Em algum ponto a técnica falha, seja na ideia em si, ou na ignorância em relação ao entendimento de como uma pessoa lê e interpreta informações no cérebro.
Por que leitura dinâmica vende tanto?
Ler no geral é bem complicado, conforme explica Chris Bailey no seu livro “Hiperfoco”, nosso cérebro não foi criado para trabalhos intelectuais.
Como consequência, tédio, sono, falta de atenção, falta de motivação, má interpretação do texto e diversos outros problemas que alguém tem enquanto tenta ler inevitavelmente surgem.
Definitivamente o nosso cérebro não evoluiu para atividades de foco profundo como a leitura.
Porém, as pessoas sabem que estudar, ler livros ou dominar a leitura no geral traz bons resultados.
Sejam eles, financeiros, nos relacionamentos, em testes de aptidão intelectual. Ler é uma atividade importante.
Dessa forma, gurus, marketeiros e oportunistas aproveitam da ignorância e desejo das pessoas em ler para vender promessas atraentes.
E como essas mesmas pessoas não têm os recursos necessários para pesquisar e concluir por conta própria o que é científico ou não, elas sucumbem ao primeiro influenciador que vende melhor a promessa de ler livros.
Técnicas de leitura dinâmica que não funcionam segundo a ciência
Agora você vai ter acesso as principais técnicas de leitura dinâmica e o porquê elas não funcionam
Para escrever esse artigo, foram necessários dois artigos sobre o assunto.
Um é o estudo realizado pelo Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia.
Já o segundo estudo sobre a leitura dinâmica foi realizado pelo Donald Homa, professor do Departamento de Psicologia da Universidade do Estado do Arizona.
Você pode conferir a referência desses artigos na aba “Fontes”, ao final do artigo, se preferir.
Dessa forma, vamos entender agora porque essas técnicas de leitura dinâmica não funcionam!
Treinamento da visão periférica
Uma das técnicas comuns de leitura dinâmica é o treinamento da visão periférica para expandir o campo de visão para ler mais palavras de uma só vez.
Porém conforme explica RAYNER et al. (2016), existem algumas implicações nesse tipo de leitura que impedem a compreensão do texto, sendo elas:
- A habilidade de leitura é limitada pela nossa capacidade de reconhecer palavras e entender o texto, não pelos padrões de movimentos oculares
- Processar palavras fora de ordem ou com algumas palavras removidas prejudica a compreensão
- Movimentos oculares regressivos (reler o mesmo texto) apoiam a compreensão em vez de prejudicá-la
- Tentativas de melhorar a velocidade de leitura por meio do treinamento da visão periférica não foram bem-sucedidas
Em resumo, a habilidade de ler de forma eficaz é limitada pelas capacidades cognitivas de processamento, e não pelas capacidades visuais.
Melhorar apenas a visão não leva necessariamente a uma leitura mais rápida com boa compreensão
Eliminar a subvocalização
Outra técnica ensinada em cursos de leitura dinâmica é a eliminação da subvocalização.
A premissa é a de que a fala interna que temos durante a leitura, como se estivéssemos lendo em voz alta, atrapalha a velocidade da leitura.
Porém, conforme explica RAYNER et al. (2016), a subvocalização tem um papel importante na compreensão e identificação das palavras.
Ou seja, eliminar a subvocalização tem efeitos negativos diretos na compreensão do texto lido.
Principalmente quando o texto é de difícil leitura.
Mesmo em leituras de alta velocidade, os leitores ainda geram representações de palavras por meio de sons.
Portanto, não tente eliminar a subvocalização da sua leitura em troca de velocidade. Isso custará a sua compreensão.
Skimming
Skimming é uma técnica de leitura dinâmica que tem como objetivo mover os olhos em movimentos diagonais ou em ziguezague pela página, procurando as palavras-chave.
Na prática, seria o equivalente a ler dessa maneira um texto:
Porém, RAYNER et al. (2016) explica que leitores dinâmicos que usam essa técnica, quando apresentados a um teste de múltipla escolha, desempenham mal nos resultados.
Ou seja, novamente a compreensão do texto por parte dos praticantes do skimming é afetada.
As pesquisas ainda complementam a ineficácia do skimming ao identificar que:
- Pessoas que estavam lendo superficialmente (skimming) tiveram menos capacidade de identificar corretamente afirmações retiradas do texto. Isso ocorreu independentemente de as afirmações refletirem informações importantes ou detalhes menores.
- A queda igual no desempenho tanto para informações importantes quanto para detalhes menores indicou que os leitores superficiais (skimming) não conseguiram selecionar efetivamente as informações importantes para ler com atenção enquanto pulavam os detalhes menores.
Por outro lado, existe a possibilidade do praticamente do skimming ler o texto com um pouco mais de tempo e atenção focando em partes mais críticas de um texto. Nesse caso, a técnica passa a fazer sentido e ser mais eficaz.
Além disso, há a possibilidade do leitor examinar um texto em busca de títulos, estrutura de parágrafos ou palavras-chave para localizar informações potencialmente relevantes, e então ler mais atentamente quando encontram essas regiões.
Fora isso, o skimming com foco em velocidade e retenção por si só não faz sentido.
Tecnologias de leitura dinâmica
Por fim, existem também as tecnologias que visam acelerar a velocidade da leitura também.
RAYNER et al. (2016) cita duas principais, sendo elas:
- Tecnologias baseadas em RSVP (Rapid Serial Visual Presentation)
- Tecnologias baseadas em cores
Tecnologia baseada em RSVP
Basicamente é um software que tem como objetivo mostrar uma palavra por vez na tela do usuário.
Além de dar a possibilidade de controlar a velocidade em que as palavras vão aparecer na tela.
Como resultado, o software se encarregaria de mostrar as palavras, e o leitor iria absorver passivamente a leitura do texto.
Exemplo da ferramenta na prática:
Dentre as inúmeras premissas falsas para explicar a eficácia dessa ferramenta, a principal diz respeito a seguinte afirmação:
“20% do tempo de leitura é gasto processando o conteúdo no cérebro, enquanto que os outros 80% restantes é apenas tempo gasto movendo os olhos”
Porém, a premissa está errada ao dizer que processamento de informação e movimentos oculares são processos mutuamente exclusivos.
O cérebro processa sim a informação do conteúdo lido enquanto os olhos estão em movimento.
Portanto, a tecnologia em si tenta resolver um problema que nem existe quando o assunto é leitura.
Tecnologia baseada em cores
Por fim, a segunda tecnologia citada por RAYNER et al. (2016) é a que usa cores para auxiliar na leitura.
É comum leitores pularem linhas durante a leitura, o que gera o trabalho de reler certas partes do texto para retomar a linha de raciocínio e compreensão do texto.
Dessa forma, surgem softwares que usam gradientes de cores para evitar esse problema conforme exemplo abaixo:
Porém, essa técnica não produz muitos resultados, visto que reler um texto não é a prática crítica do processo de compreensão.
Melhorias nesse sentido não geram resultados relevantes na compreensão e velocidade de leitura.
O caso dos alunos da “Academia de Leitura Dinâmica”
Por fim, existe ainda um outro artigo do professor Donald Homa da universidade do Arizona que foi desafiado pela “American Speedreading Academy” (ASA) a conhecer dois pupilos da academia.
Supostamente eles liam o equivalente a trinta mil palavras por minuto utilizando técnicas comuns de leitura dinâmica.
Dessa forma, o interesse da ASA era mostrar que as técnicas daqueles dois alunos da academia poderiam ser replicáveis, principalmente como um método para ajudar estudantes na faculdade.
Para provar que a instituição em questão propagava pseudociência, Homa fez 3 tipos de teste:
- Medição da extensão perceptual para letras únicas;
- Identificação de palavras dentro de parágrafos;
- Compreensão de texto.
O problema é que os resultados mostraram que ou os leitores tinham um desempenho igual ou até mesmo muito inferior ao grupo de pessoas que faziam os mesmos experimentos.
Principalmente no tópico da compreensão, ou seja, de acordo com o professor que fez o artigo, os alunos iriam reprovar facilmente utilizando essas técnicas na faculdade.
O que gerou uma conclusão um tanto quanto engraçada no final do artigo do professor sobre os alunos da ASA:
Concluindo, a única habilidade digna de nota exibida pelos dois leitores rápidos foi uma notável destreza ao virar as páginas.
(HOMA, 1983, p. 4)
Conclusão
Leitura dinâmica não funciona, e não é difícil achar artigos que explicam as causas.
Desde as maneiras equivocadas de entender o processo de leitura no cérebro até o uso das técnicas em si, não há nada que defenda a leitura dinâmica.
Ou seja, essa técnica é nada mais nada menos que uma forma de tirar dinheiro de pessoas ignorantes.
Por outro lado, se você quer de fato ler livros como uma velocidade adequada e ter prazer lendo, confira o artigo abaixo sobre como criar o hábito da leitura:
- Leia também: Como criar o hábito da leitura em pouco tempo
